Não conseguimos mais escapar da tecnologia no mundo civilizado. Com poucos toques no smartphone, conseguimos um motorista para nosso destino, melhores rotas para evitar trânsito congestionado, pedimos comida sem nos preocupar com o troco (que antigamente o motoboy se esquecia com dada frequência), notícias do mundo especialmente separadas para nós, etc. Sem sombra de dúvida, vivemos numa era de massivas facilidades tecnológicas. Os gigantes de tecnologia possuem com receita maior que o PIB de alguns países, e ainda estão crescendo¹. E nós, humanos?

"Dados são o novo petróleo"

Clive Humbymatemático britânico e especialista em ciência dos dados

Quando nós adquirimos um smartphone com sistema Android ou iOS ao ativarmos nossa conta aparece uns textos, caixinhas para marcar com um botão “Aceito” ou “Concordo” e logo após isto estamos imersos num ecossistema digital que aprende nossos hábitos, rotina e tem acesso quase irrestrito de nossa vida. Semelhante ocorre com redes sociais. No Facebook ao se cadastrar, com certeza você não lembra, dizia algo parecido assim: “ao cadastrar em ‘Cadastre-se’ você concorda com os Termos, Política de Dados e Política de Cookies”. São três links, os dois primeiros com textos com mais de quatro mil palavras cada um e outro com mais de mil e quinhentas. Total de aproximadamente nove mil e quinhentas palavras². Pesquisei e pela quantidade de palavras é compatível com o tamanho de uma noveleta. Eu acabei não lendo e possivelmente você também. Eu só queria estar em contato com meus amigos, poder estar atualizado com notícias recentes, encontrar empresas e serviços, etc. Ler uma noveleta para isso parece ser perda de tempo!

Uma das coisas que o termo que aceitamos sem ler do Facebook dizia que nossos dados e de outras pessoas são fornecidos também por parceiros, onde o próprio Facebook trata esses dados para oferecer melhor experiência, sistema de anúncios, sistema operacional, operação dentro do aplicativo (Sim! Eles sabem até onde nosso cursor está!), torres de celular, sinal de Bluetooth, localização do GPS, câmera, fotos do dispositivo, dispositivos de sua rede e por aí vai. Todos esses dados sendo coletados pela empresa de Mark Zuckerberg.

Quem nunca foi pesquisar algum produto numa loja de departamentos e, como mágica, logo aparecia em um anúncio dentro do Facebook ou Instagram? Ou até mesmo estar conversando pessoalmente com alguém sobre uma viagem e também ter o mesmo efeito? Publicamente o Facebook negou escutar seu microfone e conversas telefônicas para esse fim, mas pela quantidade de relatos de usuários ao redor do mundo fica difícil acreditar.

Claro que não podemos falar de Facebook e uso indevido de dados para lembrar o caso da Cambridge Analytica. Em 2013 esta empresa britânica publicou um quiz de perguntas dentro da rede social para traçar um perfil de pensamento do usuário, já que era permitido nas políticas do Facebook. Com as informações coletadas, a Cambridge Analytica formulou um método para traçar o perfil político e assim direcionar propagandas e campanhas publicitárias do candidato Donald Trump e, desta forma, possibilitando um maior número de votos. Um simples joguinho de questões dentro de uma rede social conseguiu influenciar e direcionar eleitores e pode ter sido peça chave para a eleição presidencial de um país poderoso. Você pode acompanhar mais sobre isso no documentário da Netflix chamado “Privacidade Hackeada”.

E nós estamos aceitamos isso!

Seus dados são valiosos! Saber quem você é, seus hábitos, rotina, interesses e consumos são de interesse de muitas pessoas, grupos e empresas. Ainda mais daqueles sites e serviços que não cobram nada de você. Isto é chamado Zero Price Advertisement Business Model, onde os usuários não pagam uma quantia monetária pelo serviço ou produto e em contrapartida é fornecido dados pessoais que por parcerias e/ou mecanismos possibilitam o direcionamento de conteúdo publicitário, financiando indiretamente o produto ou serviço. Se olhar de trás para frente, fica melhor de entender: empresas pagam por publicidade direcionada para sistemas, produtos ou serviços gratuitos para o usuário final que estes, por sua vez, fornecem dados e informações para o sistema possa melhorar os critérios de publicidade e garantir melhores resultados para os anunciantes. Em suma: VOCÊ É O PRODUTO!

Se somos tratados como produtos, empresas com grande poder fazem mau uso das nossas informações coletadas, abusos ocorrem de todas as formas possíveis, quem vai nos defender?

Isso é assunto para a parte dois...

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Leonardo Silva

Responsável Técnico da Tchebyte

Microsoft Certified Professional (MCP), Especialista em Segurança de Redes (CNSS) pela International Cybersecurity Institute (ICSI) e Cyber Security Foundation Professional Certificate - CSFPC™. Trabalha com Tecnologia da Informação com infraestrutura de servidores, segurança da informação, adequação a LGPD, gestão e controle de equipamentos, monitoramento de ativos, tratamento de dados, etc. Veja mais aqui.
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¹ Disponível em Business Insider. Publicação de 25 de julho de 2008. Acesso em 05 de novembro de 2020.

² Informações retiradas dos termos mencionados do Facebook em 05 de novembro de 2020.

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